Urografia Excretora em Pediatria
A urografia excretora é um exame contrastado utilizado para avaliar a anatomia e a função do sistema urinário em crianças. É um método eficaz para identificar malformações congênitas, obstruções, cálculos, refluxo vesicoureteral, hidronefrose e outras condições que afetam os rins, ureteres e bexiga.
Segue um protocolo detalhado para a realização do exame em pediatria:
1. Indicações do Exame
• Malformações Congênitas:
• Duplicação do sistema coletor, ureterocele, obstrução da junção ureteropiélica (JUP).
• Hidronefrose:
• Avaliação da dilatação renal e ureteral.
• Refluxo Vesicoureteral:
• Investigação de refluxo e suas consequências anatômicas.
• Obstruções e Cálculos:
• Localização de cálculos ou estreitamentos que causem obstrução.
• Infecções Recorrentes:
• Avaliação de pielonefrite crônica e cicatrizes renais.
2. Contraindicações
• Alergia ao Contraste Iodado:
• Pacientes com histórico de reações alérgicas ao contraste.
• Insuficiência Renal:
• Avaliar a função renal antes do uso de contraste iodado.
• Desidratação:
• Risco aumentado de nefrotoxicidade em pacientes desidratados.
• Gravidez (em adolescentes):
• Evitar o exame em gestantes devido ao uso de radiação.
3. Preparação do Paciente
a. Orientações aos Pais/Responsáveis
• Explicar a finalidade do exame e o uso do contraste iodado para avaliar o sistema urinário.
• Informar sobre a necessidade de colaboração da criança durante o exame para obter imagens de qualidade.
b. Jejum
• Idade e Tempo de Jejum:
• Lactentes (<1 ano): Jejum de 2 a 3 horas antes do exame.
• Crianças maiores: Jejum de 4 a 6 horas.
• Objetivo: Evitar náuseas e vômitos causados pelo contraste.
c. Hidratação
• Hidratação Adequada:
• Incentivar a ingestão de líquidos claros (água ou sucos) até 1 hora antes do jejum.
• Objetivo: Reduzir o risco de nefrotoxicidade e melhorar a eliminação do contraste.
d. Preparação Intestinal
• Dieta na Véspera:
• Refeições leves e pobres em resíduos, como sopas claras, gelatina e sucos.
• Uso de Laxantes ou Enemas:
• Podem ser recomendados na noite anterior ao exame para reduzir artefatos causados por fezes ou gases.
e. Histórico Médico
• Alergias:
• Questionar sobre alergias a medicamentos, contrastes ou alimentos.
• Função Renal:
• Avaliar creatinina sérica e taxa de filtração glomerular (TFG) antes do uso do contraste.
f. Roupas e Objetos Metálicos
• Vestuário:
• Utilizar roupas confortáveis e sem partes metálicas.
• Remoção de Objetos:
• Retirar joias, cintos, piercings e outros objetos metálicos.
4. Materiais Necessários
a. Equipamentos
• Aparelho de Raios-X com Fluoroscopia:
• Para captura de imagens dinâmicas.
• Sistema de Armazenamento:
• PACS para revisão e documentação.
b. Contraste Iodado
• Tipo:
• Contraste iodado não iônico de baixa osmolaridade (exemplo: iohexol, iopamidol).
• Dose:
• 1 a 2 ml/kg de peso corporal.
• Dose Máxima: Não exceder 50 ml em crianças pequenas.
c. Acessórios
• Material de Punção Venosa:
• Cateter intravenoso (24G ou 22G, dependendo da idade e tamanho da criança).
• Equipamentos de Emergência:
• Medicamentos para manejo de reações adversas (adrenalina, anti-histamínicos, corticosteroides).
• Oxigênio e desfibrilador.
5. Procedimento do Exame
a. Posicionamento do Paciente
• Posição Inicial:
• Decúbito dorsal na mesa radiográfica.
• Imobilização:
• Utilizar coxins e faixas para evitar movimentos, especialmente em lactentes e crianças pequenas.
• Colocação do Cateter Venoso:
• Realizar punção venosa com técnica estéril antes do início do exame.
b. Aquisição de Imagens
1. Radiografia Simples de Abdômen (Pré-Contraste):
• Avaliar presença de cálculos radiopacos e verificar posicionamento anatômico do sistema urinário.
2. Administração do Contraste:
• Injetar o contraste iodado intravenosamente em bolus lento (30-60 segundos).
• Monitorar a criança durante e após a injeção.
3. Imagens Dinâmicas Pós-Contraste:
• Tempo de Captação:
• Imediato: Imagens após 1-2 minutos para avaliar a fase vascular e a filtração glomerular.
• 5 Minutos: Avaliar a fase nefrográfica (realce do parênquima renal).
• 10-15 Minutos: Visualizar a fase excretora (enchimento do sistema coletor).
• 20-30 Minutos: Avaliar ureteres e bexiga.
• Realizar imagens adicionais em intervalos regulares, conforme necessário.
4. Imagens Pós-Miccional:
• Solicitar que a criança urine (se possível) e obter uma radiografia para avaliar o esvaziamento vesical e a presença de refluxo.
c. Observações Clínicas
• Monitoramento:
• Observar sinais de desconforto, náuseas ou reações adversas durante o exame.
• Colaboração:
• Incentivar a criança a permanecer imóvel durante a aquisição das imagens.
6. Pós-Exame
a. Cuidados Imediatos
• Hidratação:
• Incentivar a ingestão de líquidos para auxiliar na eliminação do contraste.
• Alimentação:
• Permitir retorno à dieta habitual após o exame.
b. Observação de Reações Adversas
• Reações Comuns:
• Sensação de calor, gosto metálico transitório.
• Reações Graves (raras):
• Urticária, dificuldade respiratória, hipotensão.
• Em caso de reações adversas, tratar imediatamente e manter o paciente em observação.
7. Considerações Técnicas
a. Avaliação Específica
• Malformações Congênitas:
• Observar duplicações, ureteroceles, estenoses ou agenesia renal.
• Obstruções:
• Identificar estreitamentos em ureteres ou junções.
• Refluxo Vesicoureteral:
• Avaliar possível refluxo do contraste para os ureteres durante a fase de enchimento e micção.
b. Dose de Radiação
• Ajustar os parâmetros técnicos (kVp e mAs) para minimizar a exposição à radiação, respeitando os princípios de radioproteção.
8. Resultados e Relatório
a. Parâmetros Avaliados
• Anatomia dos rins, ureteres e bexiga.
• Função excretora renal.
• Presença de cálculos, obstruções ou refluxo.
b. Comunicação dos Resultados
• O relatório deve incluir:
• Descrição das fases de realce do contraste.
• Identificação de anormalidades anatômicas ou funcionais.
• Conclusão diagnóstica e recomendações.
9. Considerações Finais
• Atendimento Humanizado:
• Manter a criança calma e tranquila é essencial para o sucesso do exame.
• Permitir a presença de um responsável na sala durante o procedimento, sempre que possível.
• Segurança Radiológica:
• Utilizar colimação adequada e protocolos pediátricos para reduzir a dose de radiação.
• Monitoramento Pós-Exame:
• Orientar os pais sobre cuidados e possíveis sintomas após o exame.
Nota Importante: Este protocolo é um guia geral e pode variar conforme os protocolos institucionais e as características individuais do paciente. A realização da urografia excretora em pediatria requer atenção cuidadosa para garantir a segurança e a eficácia do procedimento.