Protocolo de Ressonância Magnética para Avaliação de Doenças Hepáticas Difusas (Esteatose, Hemocromatose, Fibrose, Cirrose)
A ressonância magnética (RM) do fígado é uma ferramenta fundamental para a avaliação quantitativa e qualitativa das doenças hepáticas difusas, permitindo detectar e caracterizar acúmulo de gordura (esteatose), sobrecarga de ferro (hemocromatose), fibrose e cirrose hepática. A RM é superior à tomografia computadorizada (TC) e ultrassonografia (US) na quantificação de gordura e ferro hepático, além de auxiliar na avaliação da gravidade da fibrose hepática.
1. Indicações
• Diagnóstico e quantificação de esteatose hepática (doença hepática gordurosa não alcoólica - NAFLD, doença hepática gordurosa alcoólica).
• Avaliação da sobrecarga de ferro hepático (hemocromatose primária e secundária).
• Detecção e estadiamento de fibrose e cirrose hepática.
• Monitoramento da resposta ao tratamento (fibrose hepática, hepatites crônicas, terapias antifibróticas).
• Diferenciação entre gordura, ferro e fibrose no parênquima hepático.
• Planejamento pré-operatório e monitoramento de pacientes candidatos a transplante hepático.
2. Posicionamento do Paciente
• Decúbito dorsal, com os braços elevados acima da cabeça para minimizar artefatos de movimento.
• Uso de bobina abdominal de alta resolução.
• Respiração controlada ou aquisição em apneia para reduzir artefatos respiratórios.
3. Sequências e Parâmetros Técnicos
Sequência |
Plano |
Parâmetros Principais |
Finalidade |
---|---|---|---|
T1 em fase e fora de fase |
Axial |
TR/TE ~120/2.3 e 4.6 ms |
Quantificação de esteatose hepática (diferença de sinal entre fases) |
T2 FSE com supressão de gordura (FatSat ou STIR) |
Axial e Coronal |
TR/TE ~4000-5000/80-100 ms |
Identificação de edema hepático e inflamação crônica |
T2 (Gradient Echo - GRE)* |
Axial |
TR curto, TE variável (2-10 ms) |
Quantificação de sobrecarga de ferro (hemocromatose) |
DWI (Difusão) |
Axial |
b = 0, 800-1000 s/mm² |
Avaliação da difusão tecidual, detectando inflamação e fibrose hepática |
MR Elastografia (MRE) |
Axial |
Sequência específica de elastografia |
Medida da rigidez hepática para estadiamento da fibrose |
T1 Dinâmico com Gadolinio (Primovist/Eovist ou Gadoterato) |
Axial |
Fases arterial, portal, equilíbrio e tardia |
Avaliação de perfusão hepática e sinais de disfunção hepatocelular |
Fase Hepatobiliar (20 min pós-contraste - Primovist/Eovist) |
Axial |
TR/TE ~600/10 ms |
Diferenciação entre hepatócitos funcionais e lesões disfuncionais |
4. Caracterização das Doenças Hepáticas Difusas
Doença |
T1 em fase/fora de fase |
T2 GRE (T2*) |
DWI |
MRE |
Fase Hepatobiliar |
---|---|---|---|---|---|
Esteatose Hepática |
Queda de sinal na fase fora de fase |
Normal |
Sem restrição |
Normal ou levemente alterada |
Preservada |
Hemocromatose |
Sinal hipointenso difuso em ambas as fases |
Sinal hipointenso com redução do T2* |
Normal |
Normal |
Preservada |
Fibrose Hepática |
Sinal normal |
Normal ou leve hipointensidade |
Restrição leve |
Aumento da rigidez hepática (>3 kPa) |
Redução discreta da captação |
Cirrose Hepática |
Lobulação hepática, nodularidade |
Normal ou hipointenso |
Restrição significativa |
Aumento significativo da rigidez hepática (>4 kPa) |
Diminuição da captação hepatocitária |
5. Achados Patológicos
Esteatose Hepática (Doença Hepática Gordurosa)
• Queda de sinal na sequência T1 fora de fase comparada com a fase em fase.
• Distribuição homogênea ou heterogênea da gordura.
• Sinais de esteato-hepatite (se presente): aumento de sinal em T2/STIR, podendo haver leve restrição na difusão.
Hemocromatose (Primária e Secundária)
• Hipossinal difuso na sequência T2* devido à sobrecarga de ferro.
• Preservação do sinal em T1 fora de fase (diferenciação de esteatose).
• Distribuição difusa (hemocromatose primária) ou segmentar (hemocromatose secundária).
Fibrose Hepática
• Aparência normal ou discretamente heterogênea no T1 e T2.
• Restrição leve na difusão (DWI com ADC reduzido).
• Aumento progressivo da rigidez hepática na MRE (>3 kPa sugere fibrose significativa).
Cirrose Hepática
• Atrofia ou hipertrofia de segmentos hepáticos.
• Lobulação hepática e nodularidade da superfície hepática.
• Restrição significativa na difusão (DWI).
• Redução da captação hepatocitária na fase hepatobiliar.
• Aumento acentuado da rigidez hepática na elastografia (>4 kPa).
6. Preparo do Paciente
• Jejum de 4-6 horas, especialmente para exames dinâmicos com gadolínio.
• Preenchimento do questionário de segurança para RM.
• Uso de gadolínio (Primovist/Eovist ou Gadoterato) em casos de suspeita de disfunção hepatocelular ou para avaliação de perfusão hepática.
• Instrução para respiração controlada ou aquisição em apneia durante as sequências dinâmicas.
7. Considerações Adicionais
• MRE (Ressonância Magnética Elastográfica) é o método mais sensível para estadiamento da fibrose hepática.
• T2 é fundamental para quantificação de ferro hepático* e diferenciação de hemocromatose e depósitos de cálcio.
• DWI e ADC auxiliam na diferenciação entre processos inflamatórios e fibroses avançadas.
• A fase hepatobiliar (Primovist/Eovist) pode ser útil na diferenciação de hepatócitos funcionais e áreas de disfunção hepática.
• Comparação com exames prévios (TC, PET-CT, biópsia hepática) auxilia na progressão da doença e resposta ao tratamento.