segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Protocolo de Colangiopancreatografia por Ressonância Magnética (CPRM) para Avaliação das Vias Biliares e Pancreáticas

 

Protocolo de Colangiopancreatografia por Ressonância Magnética (CPRM) para Avaliação das Vias Biliares e Pancreáticas


A colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM) é um exame não invasivo que permite a visualização detalhada das vias biliares intra e extra-hepáticas, do ducto pancreático e da ampola de Vater, sem a necessidade de meio de contraste intravenoso. É a principal alternativa diagnóstica à colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER), evitando complicações como pancreatite e perfuração duodenal.

1. Indicações

Avaliação de obstruções biliares (litíase, estenoses benignas e malignas).

Investigação de colangite esclerosante primária e secundária.

Caracterização de neoplasias das vias biliares e pancreáticas (colangiocarcinoma, adenocarcinoma pancreático).

Detecção de cistos pancreáticos e comunicação com o ducto pancreático.

Planejamento pré-operatório para ressecções hepáticas e pancreáticas.

Monitoramento pós-operatório (reconstrução biliar, transplante hepático, fístulas biliares).

2. Posicionamento do Paciente

Decúbito dorsal, com os braços elevados acima da cabeça.

Uso de bobina abdominal de alta resolução.

Respiração controlada ou aquisição em apneia para minimizar artefatos de movimento.

Administração de espasmolíticos (ex.: Buscopan®) pode ser usada para reduzir artefatos de movimento intestinal.

3. Sequências e Parâmetros Técnicos

Sequência

Plano

Parâmetros Principais

Finalidade

T2 FSE com supressão de gordura (FatSat ou STIR)

Axial e Coronal

TR/TE ~4000-5000/80-100 ms

Identificação de edema, inflamação e processos infiltrativos

T1 em fase e fora de fase

Axial

TR/TE ~120/2.3 e 4.6 ms

Avaliação de deposição de gordura (pancreatite crônica, adenomas)

CPRM 3D T2 (Respiração livre)

Coronal

TR longo, TE longo

Reconstrução volumétrica de ductos biliares e pancreáticos sem necessidade de contraste

CPRM 2D T2 (Alta Resolução)

Coronal e Axial

TR longo, TE longo

Melhor definição de estenoses e cálculos pequenos

T2 SSFSE (Single-Shot Fast Spin Echo)

Axial

TR longo

Imagem rápida para avaliar coleções líquidas e ascite

DWI (Difusão)

Axial

b = 0, 800-1000 s/mm²

Diferenciação entre processos inflamatórios e neoplásicos

T1 Dinâmico com Gadolínio (Opcional)

Axial

Fases arterial, portal, equilíbrio e tardia

Avaliação de tumores hepáticos e pancreáticos, além de realce tardio em colangiocarcinoma

4. Caracterização das Doenças Biliares e Pancreáticas

Patologia

CPRM

T2/STIR

DWI

T1 Pós-Contraste

Litíase Biliar

Defeito de enchimento hipointenso dentro dos ductos

Isointenso

Sem restrição

Sem realce

Estenose Benigna

Estreitamento focal com dilatação a montante

Espessamento leve

Sem restrição

Realce leve homogêneo

Colangiocarcinoma

Estenose irregular com realce tardio

Espessamento nodular

Restrição (baixo ADC)

Realce tardio progressivo

Pancreatite Crônica

Dilatação ductal irregular com calcificações

Hipersinal com atrofia pancreática

Sem restrição

Pode apresentar realce leve tardio

Adenocarcinoma Pancreático

Estreitamento do ducto pancreático com dilatação a montante

Espessamento focal

Restrição (baixo ADC)

Realce hipo na fase arterial, progressivo na fase tardia

Cistos Pancreáticos (IPMN, SCN, MCN)

Dilatação cística conectada ao ducto pancreático

Cistos hipersinal em T2

Sem restrição

Pode ter realce septal ou nodular

5. Achados Patológicos


Litíase Biliar e Coledocolitíase

Defeitos de enchimento hipointensos na CPRM, com dilatação dos ductos a montante.

Cálculos pequenos podem não ser visíveis se não contiverem bile espessa.

Pode estar associada a pancreatite biliar.


Estenoses Biliares

Estenoses benignas: estenose curta e regular, sem realce tardio na RM pós-contraste.

Colangiocarcinoma: estenose irregular e progressiva, com realce tardio após gadolínio.


Neoplasias Pancreáticas

Adenocarcinoma: dilatação do ducto pancreático a montante, atrofia do parênquima pancreático e realce tardio irregular.

IPMN (Neoplasia Mucinosa Papilar Intraductal): dilatação cística do ducto pancreático, com septos finos ou nodularidade mural.


Pancreatite Crônica

Ducto pancreático irregularmente dilatado, com possíveis calcificações associadas (melhor visualizadas na TC).

Atrofia do parênquima pancreático e fibrose difusa.

6. Preparo do Paciente

Jejum de 4-6 horas para reduzir o conteúdo intestinal e melhorar a visualização dos ductos biliares e pancreáticos.

Administração de Buscopan® (brometo de butilescopolamina) pode ser considerada, salvo contraindicações (glaucoma, hipertrofia prostática).

Hidratação oral pode ser recomendada para melhor distensão do ducto biliar e pancreático.

Preenchimento do questionário de segurança para RM.

7. Considerações Adicionais

A CPRM é superior à TC na detecção de cálculos biliares pequenos (<3 mm) e melhor na avaliação de ductos intra-hepáticos.

Adenocarcinoma pancreático pode ser melhor avaliado com T1 dinâmico pós-contraste e DWI.

DWI e ADC auxiliam na diferenciação entre processos inflamatórios e neoplásicos (neoplasias apresentam restrição à difusão).

Comparação com exames prévios (TC, PET-CT, CPER) auxilia na avaliação de progressão da doença.