Protocolo de Ressonância Magnética Hepática para Tumores Hepáticos (HCC, Metástases, Hemangiomas, FNH, Adenomas)
A ressonância magnética (RM) do fígado é uma ferramenta de alta precisão para a caracterização de tumores hepáticos, permitindo uma excelente diferenciação entre lesões benignas e malignas, além de avaliar a vascularização tumoral, necrose, invasão vascular e resposta ao tratamento. O uso de contrastes hepatobiliares (gadoxetato de gadolínio - Primovist/Eovist) melhora significativamente a acurácia diagnóstica.
1. Indicações
• Diagnóstico e caracterização de tumores hepáticos primários (carcinoma hepatocelular - HCC, adenoma hepatocelular, hiperplasia nodular focal - FNH).
• Detecção e diferenciação de lesões metastáticas.
• Diferenciação entre hemangiomas, cistos e outras lesões benignas.
• Avaliação da resposta ao tratamento oncológico (quimioembolização, ablação, terapia sistêmica).
• Planejamento cirúrgico e transplante hepático.
• Monitoramento de pacientes com risco aumentado de HCC (cirrose, hepatite viral crônica, hemocromatose, doença hepática gordurosa não alcoólica - NAFLD/NASH).
2. Posicionamento do Paciente
• Decúbito dorsal, com os braços elevados acima da cabeça para minimizar artefatos de movimento.
• Uso de bobina abdominal de alta resolução.
• Respiração controlada ou aquisição em apneia durante as fases dinâmicas com contraste.
• Administração de contraste intravenoso (gadoxetato de gadolínio ou gadoterato de meglumina) e, em alguns casos, contraste oral para evitar sobreposição do intestino.
3. Sequências e Parâmetros Técnicos
Sequência |
Plano |
Parâmetros Principais |
Finalidade |
---|---|---|---|
T1 SE |
Axial e Coronal |
TR/TE ~600/10 ms |
Avaliação anatômica e diferenciação entre gordura, tecidos sólidos e líquidos |
T2 FSE com supressão de gordura (FatSat ou STIR) |
Axial e Coronal |
TR/TE ~4000-5000/80-100 ms |
Identificação de edema, necrose e diferenciação entre lesões císticas e sólidas |
DWI (Difusão) |
Axial |
b = 0, 800-1000 s/mm² |
Avaliação de restrição na difusão para diferenciar lesões benignas e malignas |
T1 em fase e fora de fase |
Axial |
TR/TE ~120/2.3 e 4.6 ms |
Avaliação de deposição de gordura ou ferro (adenomas, esteatose, hemocromatose) |
T1 Dinâmico com Gadolinio (Primovist/Eovist ou Gadoterato) |
Axial |
Fases arterial, portal, equilíbrio e tardia |
Caracterização da vascularização tumoral |
Fase Hepatobiliar (apenas com Primovist/Eovist, 20 min pós-contraste) |
Axial |
TR/TE ~600/10 ms |
Diferenciação de hiperplasia nodular focal (FNH) e adenomas hepatocelulares |
MRCP (Colangiografia por RM, opcional) |
Coronal |
TR longo, TE longo |
Avaliação da árvore biliar em caso de obstrução associada |
4. Caracterização das Lesões Hepáticas
Lesão |
T1 |
T2 |
DWI |
Fase Arterial |
Fase Portal |
Fase Hepatobiliar |
---|---|---|---|---|---|---|
HCC (Carcinoma Hepatocelular) |
Iso/Hipo |
Hiper |
Restrição (baixo ADC) |
Realce intenso |
Washout |
Defeito de captação |
Metástases Hepáticas |
Hipo |
Hiper |
Restrição (baixo ADC) |
Variável |
Washout parcial |
Defeito de captação |
Hemangioma |
Hipo/Iso |
Muito hiper |
Sem restrição |
Realce nodular periférico |
Preenchimento centrípeto |
Sem captação |
FNH (Hiperplasia Nodular Focal) |
Iso/Hipo |
Iso |
Sem restrição |
Realce intenso homogêneo |
Isointensa |
Captação homogênea |
Adenoma Hepatocelular |
Iso/Hipo |
Iso/Hiper |
Variável |
Realce homogêneo ou heterogêneo |
Washout parcial |
Defeito de captação |
5. Achados Patológicos
Carcinoma Hepatocelular (HCC)
• Realce intenso na fase arterial com washout na fase portal e tardia.
• Restrição na difusão (baixo ADC).
• Defeito de captação na fase hepatobiliar (Primovist/Eovist).
• Presença de trombose tumoral na veia porta pode estar associada.
Metástases Hepáticas
• Sinal hipointenso em T1 e hiperintenso em T2.
• Restrição na difusão, sugerindo malignidade.
• Realce variável, podendo apresentar washout parcial.
• Ausência de captação na fase hepatobiliar.
Hemangioma Hepático
• Hipointenso em T1 e muito hiperintenso em T2 (sinal de “álbumina líquida”).
• Realce nodular periférico na fase arterial com preenchimento centrípeto progressivo.
• Sem restrição na difusão e sem defeito de captação na fase hepatobiliar.
Hiperplasia Nodular Focal (FNH)
• Realce arterial homogêneo intenso.
• Sem washout na fase portal.
• Captação na fase hepatobiliar (marcador diferencial de adenoma).
• Pode conter uma cicatriz central hipointensa em T1 e hiperintensa em T2.
Adenoma Hepatocelular
• Realce arterial variável, podendo ser homogêneo ou heterogêneo.
• Washout parcial na fase portal.
• Sem captação na fase hepatobiliar (diferença para FNH).
• Pode conter gordura visível nas sequências em fase e fora de fase.
6. Preparo do Paciente
• Jejum de 4-6 horas para reduzir artefatos biliares e gástricos.
• Preenchimento do questionário de segurança para RM.
• Uso de gadolínio obrigatório, preferencialmente gadoxetato (Primovist/Eovist) para melhor caracterização das lesões hepáticas.
• Respiração controlada e instrução para apneias curtas durante as fases dinâmicas do contraste.
7. Considerações Adicionais
• DWI e ADC são essenciais para diferenciar tumores benignos de malignos.
• Primovist/Eovist é útil para diferenciar FNH de adenomas hepatocelulares.
• Hemangiomas não apresentam restrição na difusão e têm padrão de realce característico.
• Comparação com exames prévios (TC, PET-CT) auxilia na avaliação da progressão tumoral e resposta ao tratamento.