segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Protocolo de Ressonância Magnética Hepática para Tumores Hepáticos (HCC, Metástases, Hemangiomas, FNH, Adenomas)

 

Protocolo de Ressonância Magnética Hepática para Tumores Hepáticos (HCC, Metástases, Hemangiomas, FNH, Adenomas)


A ressonância magnética (RM) do fígado é uma ferramenta de alta precisão para a caracterização de tumores hepáticos, permitindo uma excelente diferenciação entre lesões benignas e malignas, além de avaliar a vascularização tumoral, necrose, invasão vascular e resposta ao tratamento. O uso de contrastes hepatobiliares (gadoxetato de gadolínio - Primovist/Eovist) melhora significativamente a acurácia diagnóstica.

1. Indicações

Diagnóstico e caracterização de tumores hepáticos primários (carcinoma hepatocelular - HCC, adenoma hepatocelular, hiperplasia nodular focal - FNH).

Detecção e diferenciação de lesões metastáticas.

Diferenciação entre hemangiomas, cistos e outras lesões benignas.

Avaliação da resposta ao tratamento oncológico (quimioembolização, ablação, terapia sistêmica).

Planejamento cirúrgico e transplante hepático.

Monitoramento de pacientes com risco aumentado de HCC (cirrose, hepatite viral crônica, hemocromatose, doença hepática gordurosa não alcoólica - NAFLD/NASH).

2. Posicionamento do Paciente

Decúbito dorsal, com os braços elevados acima da cabeça para minimizar artefatos de movimento.

Uso de bobina abdominal de alta resolução.

Respiração controlada ou aquisição em apneia durante as fases dinâmicas com contraste.

Administração de contraste intravenoso (gadoxetato de gadolínio ou gadoterato de meglumina) e, em alguns casos, contraste oral para evitar sobreposição do intestino.

3. Sequências e Parâmetros Técnicos

Sequência

Plano

Parâmetros Principais

Finalidade

T1 SE

Axial e Coronal

TR/TE ~600/10 ms

Avaliação anatômica e diferenciação entre gordura, tecidos sólidos e líquidos

T2 FSE com supressão de gordura (FatSat ou STIR)

Axial e Coronal

TR/TE ~4000-5000/80-100 ms

Identificação de edema, necrose e diferenciação entre lesões císticas e sólidas

DWI (Difusão)

Axial

b = 0, 800-1000 s/mm²

Avaliação de restrição na difusão para diferenciar lesões benignas e malignas

T1 em fase e fora de fase

Axial

TR/TE ~120/2.3 e 4.6 ms

Avaliação de deposição de gordura ou ferro (adenomas, esteatose, hemocromatose)

T1 Dinâmico com Gadolinio (Primovist/Eovist ou Gadoterato)

Axial

Fases arterial, portal, equilíbrio e tardia

Caracterização da vascularização tumoral

Fase Hepatobiliar (apenas com Primovist/Eovist, 20 min pós-contraste)

Axial

TR/TE ~600/10 ms

Diferenciação de hiperplasia nodular focal (FNH) e adenomas hepatocelulares

MRCP (Colangiografia por RM, opcional)

Coronal

TR longo, TE longo

Avaliação da árvore biliar em caso de obstrução associada

4. Caracterização das Lesões Hepáticas

Lesão

T1

T2

DWI

Fase Arterial

Fase Portal

Fase Hepatobiliar

HCC (Carcinoma Hepatocelular)

Iso/Hipo

Hiper

Restrição (baixo ADC)

Realce intenso

Washout

Defeito de captação

Metástases Hepáticas

Hipo

Hiper

Restrição (baixo ADC)

Variável

Washout parcial

Defeito de captação

Hemangioma

Hipo/Iso

Muito hiper

Sem restrição

Realce nodular periférico

Preenchimento centrípeto

Sem captação

FNH (Hiperplasia Nodular Focal)

Iso/Hipo

Iso

Sem restrição

Realce intenso homogêneo

Isointensa

Captação homogênea

Adenoma Hepatocelular

Iso/Hipo

Iso/Hiper

Variável

Realce homogêneo ou heterogêneo

Washout parcial

Defeito de captação

5. Achados Patológicos


Carcinoma Hepatocelular (HCC)

Realce intenso na fase arterial com washout na fase portal e tardia.

Restrição na difusão (baixo ADC).

Defeito de captação na fase hepatobiliar (Primovist/Eovist).

Presença de trombose tumoral na veia porta pode estar associada.


Metástases Hepáticas

Sinal hipointenso em T1 e hiperintenso em T2.

Restrição na difusão, sugerindo malignidade.

Realce variável, podendo apresentar washout parcial.

Ausência de captação na fase hepatobiliar.


Hemangioma Hepático

Hipointenso em T1 e muito hiperintenso em T2 (sinal de “álbumina líquida”).

Realce nodular periférico na fase arterial com preenchimento centrípeto progressivo.

Sem restrição na difusão e sem defeito de captação na fase hepatobiliar.


Hiperplasia Nodular Focal (FNH)

Realce arterial homogêneo intenso.

Sem washout na fase portal.

Captação na fase hepatobiliar (marcador diferencial de adenoma).

Pode conter uma cicatriz central hipointensa em T1 e hiperintensa em T2.


Adenoma Hepatocelular

Realce arterial variável, podendo ser homogêneo ou heterogêneo.

Washout parcial na fase portal.

Sem captação na fase hepatobiliar (diferença para FNH).

Pode conter gordura visível nas sequências em fase e fora de fase.

6. Preparo do Paciente

Jejum de 4-6 horas para reduzir artefatos biliares e gástricos.

Preenchimento do questionário de segurança para RM.

Uso de gadolínio obrigatório, preferencialmente gadoxetato (Primovist/Eovist) para melhor caracterização das lesões hepáticas.

Respiração controlada e instrução para apneias curtas durante as fases dinâmicas do contraste.

7. Considerações Adicionais

DWI e ADC são essenciais para diferenciar tumores benignos de malignos.

Primovist/Eovist é útil para diferenciar FNH de adenomas hepatocelulares.

Hemangiomas não apresentam restrição na difusão e têm padrão de realce característico.

Comparação com exames prévios (TC, PET-CT) auxilia na avaliação da progressão tumoral e resposta ao tratamento.