Exame Contrastado do Esôfago, Estômago e Duodeno em Pediatria: Protocolo e Orientações
O estudo contrastado do esôfago, estômago e duodeno (ESD) em pediatria é um exame dinâmico realizado sob fluoroscopia para avaliar o trato gastrointestinal superior. Ele é usado para identificar alterações anatômicas, obstruções, refluxo gastroesofágico (RGE), hérnias e outras condições que afetam essas estruturas.
1. Indicações do Exame
• Refluxo Gastroesofágico (RGE):
• Investigação de sintomas como regurgitação, vômitos recorrentes ou aspiração pulmonar.
• Estreitamento ou Obstrução:
• Avaliação de atresias, estenoses ou compressões externas.
• Anomalias Congênitas:
• Hérnias diafragmáticas, má-rotação intestinal, membranas duodenais.
• Distúrbios Funcionais:
• Avaliação de motilidade esofágica e esvaziamento gástrico.
• Suspeita de Fístula ou Perfuração.
• Corpos Estranhos:
• Localização de objetos ingeridos.
2. Contraindicações
• Perfuração Suspeita:
• Utilizar contraste iodado hidrossolúvel em vez de bário.
• Instabilidade Clínica:
• Pacientes hemodinamicamente instáveis devem ser estabilizados antes do exame.
• Alergia ao Contraste:
• Avaliar histórico de alergias ao contraste iodado ou outros agentes.
3. Preparação do Paciente
a. Orientações para os Pais/Responsáveis
• Explicar o procedimento e sua importância.
• Ressaltar que o exame é seguro e realizado sob fluoroscopia em tempo real.
b. Jejum
• Idade e Tempo de Jejum:
• Lactentes (<1 ano): 2 a 3 horas de jejum.
• Crianças maiores: 4 a 6 horas de jejum.
• Objetivo: Esvaziar o estômago para evitar regurgitação e garantir imagens de qualidade.
c. Medicações
• Antiespasmódicos:
• Podem ser administrados para reduzir movimentos peristálticos excessivos, se necessário.
• Medicações Regulares:
• Manter medicações usuais, salvo contraindicações.
d. Higiene
• Garantir que a criança esteja limpa e confortável antes do exame.
e. Vestuário
• Roupas confortáveis, sem partes metálicas.
• Remoção de joias, piercings ou outros acessórios metálicos.
4. Materiais Necessários
a. Equipamentos
• Fluoroscópio Digital:
• Com capacidade para captar imagens em tempo real e gravar sequências dinâmicas.
• Sistema PACS:
• Para armazenamento e análise das imagens.
b. Contraste
1. Sulfato de Bário (Baritado):
• Usado na maioria dos casos para visualização detalhada.
• Concentração: 30-50% (ajustada para crianças).
• Volume: Aproximadamente 1 a 3 mL/kg de peso corporal.
2. Contraste Iodado Hidrossolúvel:
• Usado em casos de suspeita de perfuração ou fístula.
• Exemplos: Gastrografin® ou Omnipaque®.
c. Acessórios
• Seringas ou copos para administração do contraste.
• Mamadeiras ou sondas orogástricas, se necessário.
• Lençóis e aventais para manter o paciente limpo.
5. Procedimento do Exame
a. Posicionamento Inicial
1. Decúbito Dorsal:
• Posicionamento inicial para avaliação basal do esôfago e estômago.
2. Mudança de Posições:
• Decúbito lateral, ventral ou Trendelenburg para melhor visualização do refluxo ou anatomia.
b. Administração do Contraste
1. Via Oral:
• Oferecer o contraste em mamadeira, copo ou colher, dependendo da idade e colaboração.
2. Via Sonda Nasogástrica:
• Indicada em lactentes ou crianças incapazes de ingerir o contraste voluntariamente.
• Administrar lentamente para evitar regurgitação.
c. Aquisição de Imagens
1. Esôfago:
• Capturar imagens durante a deglutição do contraste para avaliar:
• Motilidade esofágica.
• Presença de estenoses, fístulas ou refluxo.
2. Estômago:
• Avaliar o enchimento gástrico, paredes gástricas e a presença de massas ou hérnias.
3. Duodeno:
• Acompanhar o trânsito do contraste através do piloro e no duodeno para identificar obstruções ou malformações.
4. Refluxo Gastroesofágico:
• Posicionar a criança em Trendelenburg ou decúbito lateral para estimular o refluxo, se necessário.
6. Pós-Exame
a. Cuidados Imediatos
• Higienizar a região oral e corporal para remover resíduos de contraste.
• Observar sinais de regurgitação ou desconforto.
b. Orientações para os Pais
• Hidratação:
• Incentivar a ingestão de líquidos para facilitar a eliminação do contraste.
• Fezes Alteradas:
• Informar que as fezes podem apresentar coloração esbranquiçada ou amarelada devido ao bário.
c. Retorno à Rotina
• A criança pode retornar às suas atividades habituais logo após o exame.
7. Considerações Técnicas
a. Avaliações Específicas
1. Motilidade Esofágica:
• Verificar o padrão de trânsito do contraste pelo esôfago.
2. Refluxo Gastroesofágico:
• Avaliar a presença e o grau do refluxo.
3. Obstruções:
• Identificar áreas de estenose ou compressão extrínseca.
4. Anatomia Gástrica e Duodenal:
• Avaliar o formato, o esvaziamento gástrico e a continuidade duodenal.
b. Dose de Radiação
• Ajustar os parâmetros (kVp e mAs) para minimizar a exposição à radiação, respeitando os protocolos pediátricos.
8. Resultados e Relatório
a. Parâmetros Avaliados
• Anatomia e função do esôfago, estômago e duodeno.
• Presença de alterações, como refluxo, obstruções ou malformações.
• Trânsito do contraste e motilidade gastrointestinal.
b. Comunicação dos Resultados
• O relatório deve descrever:
• Padrão de trânsito do contraste.
• Identificação de anormalidades anatômicas ou funcionais.
• Conclusões diagnósticas e recomendações.
9. Considerações Finais
a. Atendimento Humanizado
• Garantir que a criança se sinta confortável durante todo o procedimento.
• Permitir a presença de um responsável na sala, sempre que possível.
b. Segurança Radiológica
• Utilizar colimação e técnicas de redução de dose para minimizar a exposição à radiação.
c. Educação dos Pais
• Explicar os achados do exame e os próximos passos, conforme necessário.
Nota: Este protocolo é um guia geral e pode variar conforme os protocolos institucionais e as características individuais do paciente. A realização do estudo contrastado do esôfago, estômago e duodeno em pediatria exige experiência e cuidado para garantir a segurança e a qualidade diagnóstica.