Protocolo de Angiotomografia Venosa do Abdome Superior
A angiotomografia venosa (Angio-TC) do abdome superior é um exame de alta resolução utilizado para a avaliação detalhada da circulação venosa abdominal, sendo essencial para a investigação de tromboses, estenoses, compressões venosas, varizes, fístulas e anomalias vasculares congênitas ou adquiridas.
1. Indicações
• Trombose venosa portal e mesentérica.
• Síndrome de Budd-Chiari (trombose das veias hepáticas).
• Trombose da veia cava inferior.
• Síndrome do quebra-nozes (compressão da veia renal esquerda).
• Síndrome de May-Thurner (compressão da veia ilíaca comum esquerda).
• Hipertensão portal e circulação colateral.
• Varizes esofágicas, gástricas e periesplênicas.
• Fístulas arteriovenosas e malformações vasculares.
• Planejamento cirúrgico de shunts portossistêmicos (TIPS).
2. Posicionamento do Paciente
• Decúbito dorsal, com os braços elevados acima da cabeça para evitar artefatos.
• Respiração em apneia inspiratória para minimizar artefatos de movimento.
• Imobilização do paciente para garantir melhor qualidade das imagens.
3. Protocolo de Aquisição
Parâmetro |
Configuração Recomendada |
---|---|
Aquisição |
Helicoidal Multi-Slice (64 canais ou superior) |
Espessura de Corte |
0,5 – 1,0 mm (para reconstruções detalhadas) |
Campo de Visão (FOV) |
Ajustado para incluir fígado, baço, veia cava inferior e veias renais |
Contraste IV |
80-120 mL de iodo não iônico (300-350 mg/mL) |
Taxa de Infusão |
4-5 mL/s com bolus tracking na veia porta ou hepática |
Tempo de Aquisição |
Fase venosa tardia (~60-70 s após início da injeção) |
Plano de Aquisição |
Axial nativo, com reconstruções multiplanares (MPR) em coronal e sagital |
Janela Vascular |
600/150 HU |
Janela de Tecidos Moles |
400/40 HU |
4. Uso de Contraste
• Administração de contraste iodado intravenoso através de um acesso periférico, preferencialmente em veia antecubital.
• Protocolo de bolus tracking na veia porta ou hepática para sincronização ideal da fase venosa.
• Aquisição das imagens entre 60-70 segundos após início da injeção para melhor realce das estruturas venosas abdominais.
• Em casos de suspeita de fístulas ou refluxo venoso patológico, pode ser realizada aquisição dinâmica.
5. Reconstruções
Tipo de Reconstrução |
Finalidade |
---|---|
MPR (Multiplanar Reconstructions) |
Avaliação detalhada do trajeto venoso nos planos axial, coronal e sagital |
MIP (Maximum Intensity Projection) |
Destaque para tromboses, estenoses e circulação colateral |
3D Volume Rendering |
Planejamento cirúrgico e avaliação de compressões venosas |
Curved Planar Reconstructions (CPR) |
Melhor visualização da anatomia venosa tortuosa |
6. Principais Achados
Tromboses e Estenoses Venosas
• Trombose da veia porta: falha de enchimento luminal, dilatação de colaterais portossistêmicas.
• Trombose das veias hepáticas (Síndrome de Budd-Chiari): hepatomegalia, congestão hepática, circulação colateral.
• Trombose da veia cava inferior: falha de enchimento com presença de circulação colateral abdominal.
• Estenoses venosas: redução do calibre da veia devido a compressão extrínseca ou trombose residual.
Síndromes Compressivas Venosas
• Síndrome do quebra-nozes: compressão da veia renal esquerda entre a aorta e a artéria mesentérica superior.
• Síndrome de May-Thurner: compressão da veia ilíaca comum esquerda pela artéria ilíaca comum direita, predispondo à trombose.
Hipertensão Portal e Circulação Colateral
• Varizes esofágicas e gástricas: vasos colaterais dilatados no esôfago e fundo gástrico.
• Shunts espontâneos: comunicação portossistêmica alternativa para reduzir pressão portal.
• Aumento do diâmetro da veia esplênica e da veia porta.
Fístulas e Malformações Vasculares
• Fístulas arteriovenosas: comunicação direta entre artérias e veias abdominais.
• Malformações venosas congênitas: trajetos venosos aberrantes com enchimento precoce.
Alterações Pós-Cirúrgicas e Pós-Procedimentos
• Monitoramento de shunts portossistêmicos (TIPS).
• Avaliação de permeabilidade de enxertos venosos e tromboses pós-cirúrgicas.
• Complicações de transplante hepático, como estenoses e tromboses venosas.
7. Preparo do Paciente
• Jejum de 4 horas para exames com contraste.
• Hidratação prévia para reduzir impacto do contraste iodado.
• Evitar uso de substâncias vasoconstritoras antes do exame (exemplo: cafeína, nicotina).
• Preenchimento do questionário de segurança para contraste (avaliação de alergias e função renal).
8. Considerações Adicionais
• A TC tridimensional (3D Volume Rendering) é essencial para planejamento cirúrgico e guias endovasculares.
• A angio-RM pode ser uma alternativa para pacientes com contraindicação ao contraste iodado.
• Comparação com exames prévios (Doppler venoso, RM) auxilia no diagnóstico diferencial.